Não é simples detectar se estamos vivenciando um relacionamento abusivo, mas um sinal indicativo é quando sentimos medo generalizado da pessoa com quem nos relacionamos, evitamos dizer ou fazer certas coisas com receio da repercussão, ou sentimos que estamos presos à uma situação sem possibilidade de saída. Esses fatores indicam que estamos vivendo um típico relacionamento abusivo. Neste caso, a melhor coisa a fazer é sair rapidamente, cortar todos os laços com o agressor e procurar ajudar profissional o mais rápido possível.
Existem várias formas de abuso e algumas delas são “silenciosas” o que torna ainda difícil para o agredido identificar seu “amor” como um agressor. O abuso pode acontecer de forma mascarada e imperceptível, por meio de ações corriqueiras que acabam fazendo parte do dia a dia. A vítima sente como se tudo fosse “normal” e acha que, um dia, o parceiro ou parceira vai mudar e tudo voltará a ser como era antes, ou seja, normal. Mas, a realidade não funciona assim.
Alguns indícios podem ser decisivos para provar a existência de um relacionamento abusivo.
As diferentes faces do abuso
- Ciúmes excessivo e sentimento de posse – Violar a privacidade, vasculhar bolsas, celulares e computadores em busca de “provas” de uma suposta traição. Muitas vezes, o ciúme e a possessividade não são percebidos como abusivos e, até mesmo, são confundidos com “provas de amor”. Contudo, vale ressaltar que nem toda pessoa ciumenta é abusiva. Um bom termômetro para essa avaliação é perceber se esses sentimentos fazem com que o parceiro ou parceira se sinta propriedade da outra pessoa e, com isso, perca sua identidade.
- Violência sexual – Forçar contatos íntimos, fazer chantagem emocional para coagir o outro a fazer sexo, exigir provas de amor tirânicas, não respeitar o “não quero fazer sexo” achando que o outro tem obrigaçãode praticar atos sexuais sempre que a pessoa desejar.
- Agressão física – Atacar fisicamente alguém causando danos materiais ou fisiológicos com tapas, chutes, empurrões ou ameaças, quebrar ou arremessar objetos durante uma briga com violência e cercear a liberdade de ir e vir além de culpar o outro pelo próprio sofrimento emocional são algumas formas de abuso. A agressão física pode ter maior ou menor intensidade. No caso de ameaçar a integridade corporal ou a saúde de alguém é considerada crime, pelo Código Penal.
- Violência emocional – Submeter o outro com falso poder ou força, mesmo que inconscientemente. Punir alguém por se sentir desagradado exigindo desculpas exageradas ou falsas provas de amor em troca de perdão. Proibir o outro de sair de casa ou de se relacionar com amigos e parentes, ainda mais se estes já perceberam o abuso. Controlar os passos do outro e pedir satisfação o tempo todo com detalhes são provas de relacionamento abusivo. Ameaçar se matar ou se machucar quando for contrariado.
Relatei somente alguns exemplos de comportamentos considerados abusivos, mas o que é mais importante é o sentimento da vítima.
A solução
É muito doloroso chegar à conclusão de que estamos sofrendo qualquer tipo de abuso, mas uma vez identificado, o primeiro passo é livrar-se de tudo que nos prende à situação. A dificuldade de sair do relacionamento abusivo está intrinsecamente ligada ao grau de dependência emocional, econômica ou social que a vítima mantém com o agressor.
É aconselhável, além da terapia, buscar o apoio de amigos e familiares queridos. Se não cuidarmos do nosso lado emocional a “ferida” continuará aberta e continuaremos com medo não só de quem abusou de nós, mas de futuros relacionamentos com pessoas que demonstrem reações que nos remetam àquelas lembranças. Isso é um sintoma de estresse pós-traumático e o mais indicado é procurar ajuda profissional para superar o trauma e o sofrimento, o mais rápido possível.
Psicóloga clínica e hipnoterapeuta especialista em terapia cognitivo comportamental e psicoterapia sexual. Especializada em medicina comportamental, orientadora sexual, psicoterapeuta de casais, professora convidada em cursos de especialização, presidente do CEPCoS, membro associado da SBRASH, membro associado da ABPMC, sexóloga do Hospital Pérola Byington, em São Paulo. Palestrante em cursos de aperfeiçoamento e especialização, workshops, congressos e jornadas. Acompanhamento de profissionais em início de carreira. CONTATO: vmbressani@gmail.com
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