Quem nunca sentiu a tentação de dar uma checada no celular do parceiro ou da parceira, revirar bolsas e carteiras ou dar uma bisbilhotada nos e-mails? O ciúme está presente na maioria dos relacionamentos. Em pequenas doses, pode ser considerado saudável e até mesmo um ingrediente para dar uma apimentada na relação. Mas pode virar um caso patológico quando passa dos limites, tornando-se exagerado e insuportável para ambas as partes.
Quando o ciúme pode ser considerado patológico
O ciúme “doentio” faz com que um dos parceiros estabeleça dependência afetivo-emocional em relação ao outro. A pessoa ciumenta torna-se paranoica e passa a interpretar fatos e acontecimentos a partir de uma ótica própria que, na maioria das vezes, não corresponde à realidade.
O ciumento sofre muito, sente ansiedade, raiva e medo o tempo todo porque pensa que pode perder o ente querido sem motivo a qualquer momento. Não suporta a ideia de que o companheiro ou a companheira possa dar seu afeto a outra pessoa, uma terceira pessoa, real ou imaginária. Sente que a possibilidade da perda de seu parceiro ou parceira será terrível para ele, insuportável e que não sobreviverá, caso venha a perder o ser amado. Assim, acaba se tornando um algoz controlador, vigilante, asfixiante, inseguro, depressivo e, cada vez mais, dependente da atenção, do afeto e do amor do outro.
Estabelece algumas formas de punição, como “Se você não for só meu (ou minha), irei embora ou não te amarei mais, ou vou me matar”. Desse ponto para a violência física, é necessário apenas um pequeno passo.
Esses sentimentos e atitudes funcionam como um gatilho que desencadeia uma série de desequilíbrios na relação e faz com que a vítima do ciúme, sofra, sinta-se violada, oprimida e privada de sua liberdade até que um dia acaba se isolando do mundo e das pessoas para não despertar a ira do parceiro.
Em casos extremos, o objeto do ciúme torna-se vítima de acusações, muitas vezes sem fundamento. Fica preso em uma cadeia emocional ou até mesmo em uma cadeia física, como acontece nos casos de cárcere privado.
A psicologia explica que o ciúme é uma resposta emocional natural quando nos sentimos ameaçados, com medo de perder um relacionamento importante para nós. A personalidade ciumenta pode se manifestar independentemente de idade, gênero, condição socioeconômica, cultura ou da forma como a pessoa foi criada.
É importante ter em mente que o amor verdadeiro não é ciumento e o ciúme é fruto da nossa insegurança, baixa autoestima, frustrações e imaturidade. Caso você identifique sintomas e reações de ciúme em você ou no seu parceiro ou parceira, avalie a possibilidade de fazer uma terapia de casal. O consultório do terapeuta funciona como um lugar de acolhimento, onde o casal pode dividir suas aflições com o terapeuta, desabafar e procurar soluções para uma vida feliz e equilibrada. A terapia normalmente é feita com os parceiros juntos, mas, em algumas situações, precisa ser individual.
O terapeuta é um facilitador das conversas e, com seu conhecimento e experiência, elabora perguntas pontuais que contribuem para trazer situações importantes à tona, focar as questões conflitantes, minimizar acusações mútuas e estabelecer o diálogo construtivo, fazendo com que o casal saia do looping criado pela rotina e pelos problemas e comece a criar suas próprias soluções.
O ciúme está relacionado à falta de confiança no parceiro ou na parceira e, principalmente, à falta de confiança em si mesmo. A falta de comunicação pode ser apontada como um dos principais problemas que desencadeiam outras dificuldades na relação. Para que isso não aconteça, precisamos desenvolver a autoconfiança, o amor próprio e estabelecer uma relação saudável com o companheiro ou a companheira, em que haja diálogo saudável e constante. Discutir questões da vida do casal de forma agressiva é tão prejudicial quanto a falta de diálogo. O caminho do meio, a alternativa equilibrada é estabelecer sobre o que e como dialogar. Essa questão pode ser negociada entre o casal para que tenham uma vida em comum mais feliz, saudável e proveitosa.
Psicóloga clínica e hipnoterapeuta especialista em terapia cognitivo comportamental e psicoterapia sexual. Especializada em medicina comportamental, orientadora sexual, psicoterapeuta de casais, professora convidada em cursos de especialização, presidente do CEPCoS, membro associado da SBRASH, membro associado da ABPMC, sexóloga do Hospital Pérola Byington, em São Paulo. Palestrante em cursos de aperfeiçoamento e especialização, workshops, congressos e jornadas. Acompanhamento de profissionais em início de carreira. CONTATO: vmbressani@gmail.com
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